Por José Sarney
Jorge Amado me contou que, depois de longo exílio, reencontrou um dos maiores poetas de língua espanhola, Pablo Neruda, e perguntou-lhe por um amigo comum, que tinha convivido com eles em Praga, onde nascera sua filha Paloma Amado. Neruda respondeu-lhe: “Jorge, não me perguntes por ninguém. Somos sobreviventes: todos já morreram.”
Já o meu mestre e companheiro de trabalho na redação de O Imparcial, Dr. Fernando Perdigão, quando eu era moço, disse-me: “Sarney, a gente só sabe que está velho quando chegar ao Cemitério do Gavião, olhar para os túmulos e dizer: “Este aqui era meu amigo, esse ali foi meu alfaiate, aquele acolá, meu colega de faculdade, um mais adiante, meu professor de latim”. Ri com ele e depois passei a lembrar-me de sua didática sempre que ia ao cemitério e reconhecia nas lápides amigos e conhecidos.
Com esse sentimento, sentei-me para escrever esta coluna lembrando-me do Clóvis Rossi, que acaba de nos deixar. Grande jornalista. Na Folha de S.Paulo também tínhamos, acima de todos, o Cláudio Abramo, mestre dos mestres; no Jornal do Brasil, Herberto Sales e o notável Carlos Castelo Branco, o Castelinho, grande jornalista de análise, igual ou melhor do que Tobias Monteiro, que, além de historiador, foi o primeiro a fazer grandes reportagens sobre as figuras do Império, sobre o qual escreveu, em dois volumes, o História do Império, reconstituindo, com a fontes primárias, a Lei do Ventre Livre, a Abolição, a República. Castelo foi mais do que ele: escreveu a história contemporânea do Brasil em seus artigos no JB (Coluna do Castelo), permitindo-nos acompanhar, pelo seu trabalho, todos os acontecimentos, altos e baixos, do nosso País. Foi meu colega na Academia Brasileira de Letras, onde o recebi.
Vou aos patriarcas e aqui coloco o maior de todos: Odylo Costa, filho, meu amigo, o maior que tive, pai do jornalismo moderno no Brasil, no qual foi não somente o mestre no texto: inovou a feitura, o modelo, o texto dos jornais, a começar pelo Jornal do Brasil.
Lembro Pompeu de Sousa e o deus Austregésilo de Athayde.
No princípio do século XX, houve uma grande polêmica sobre se o jornalismo era ou não literatura. Discussão inútil. Pelo jornalismo, pode-se fazer boa literatura, sem dizer que temos grandes escritores que foram também grandes jornalistas. Josué Montello era um. Gostava do jornal. Adorava a polêmica e foi um dos maiores romancistas e intelectuais brasileiros.
A morte de Clóvis Rossi (foto acima) fez-me rebuscar estas lembranças. Todos já morreram, mas todos estão vivos através da palavra escrita, onde mora a eternidade.
Mas não posso terminar sem colocar uma coroa de louro no velho Nascimento de Moraes, aqui do Maranhão, pai de todos, a quem ainda conheci e com quem trabalhei.
Depois, aí vai também a saudade, Bandeira Tribuzzi, amigo e irmão, poeta maior, que citei nas Nações Unidas, com quem fundamos este jornal. Dizia ele: “Que tempos de viver-se!” Além de tudo, profetas. Todos mortos-vivos.
Um belo reconhecimento e excelente reflexão
Os últimos artigos do Sarney estiveram muito bons. Tanto na correção gramatical como no conteúdo apaixonado dos seus escritos. Deixou para o Buzar na sua coluna dominical bater novamente nos desmandos do desgoverno de Flávio Dino. Hoje o autor de O Vitorinismo voltar a falar das Mentiras do governo maranhense e desta feita lembra do antológico Sermão da Quinta Dominga da Quaresma pregado pelo genial Padre Antônio Vieira na Igreja Maior de São Luís do Maranhão (1654), ao que tudo indica na antiga Igreja da Sé.
Só espero que o imortal José Sarney ainda dure longos anos
Sarney sempre escrevendo como o poeta das letras
Lá vem, o amado mestre e imortal José Sarney, contando histórias de mortos vivos, felizes são aqueles que passeiam por esse mundo e conseguem deixar seus rastros registrado em alguma tabuleta deste mundo, não a título de propaganda pessoal. Mas para que as gerações futuras possom se esprelharem nos seus feitos, que a história registra e guardar como tessouro para a humanidade, e certamente José do Maranhão, o seu nome estará no contexto histórico da humanidade.