Por Abdon Marinho

AINDA não foi desta vez – e não era a intenção, muito pelo contrário –, que o governador do estado passou despercebido, ou seja, sem causar polêmica, no período momesco. E, registre-se, não foi pela avantajada massa corporal.

Só que me lembro, num dos primeiros carnavais, já na chefia do governo, “desfilou” de amo de boi, ostentando, inclusive, um vistoso par de matracas (aos que não conhecem: são dois pedaços de pau, geralmente madeira de lei, que se usa para fazer o som da matraca).

Noutro carnaval não passou despercebido e “polemizou” – e aí não acredito que tenha culpa –, ao receber uma declaração pública de amor, em pleno circuito momesco de um auxiliar mais afoito. Ecoou na Avenida – e foram ouvidos por dias nos circuitos da polêmica –, os gritos do mancebo adorador, depois secundado por um coro de: — Dino, eu te amo! — Dino, eu te amo! — Dino, eu te amo!

Embora os amantes e os loucos tenham trânsito livre, conforme ensinou-me papai, a declaração pública de amor “causou” durante um bom tempo nos meios políticos e sociais.

Aqui do meu retiro auto imposto, longe de toda efervescência da folia e, praticamente, sem internet, tomo conhecimento que sua excelência “causou”, mais uma vez, ao aparecer no reinado de Momo fantasiado dele mesmo, ou seja, sem qualquer fantasia.

Arrisco dizer que a ausência de fantasia de sua excelência provocou mais alvoroço do que se tivesse aparecido na folia com fictícia exornação de “pelado com uma melancia pendurada no pescoço”.

Durante o dia/noite recebi “print’s” com a fotografia do governador (inclusive a que ilustra o texto) e alguns comentários de seus opositores com críticas à “ausência” de fantasia da excelência. Como se num baile à fantasia, muito em voga no passado, o folião tivesse aparecido sem o adorno obrigatório e estragado a “brincadeira” dos demais.

Ora, a menos que se tratasse de um “baile à fantasia”, como referido anteriormente, não vi motivos para a “ausência de fantasia” da autoridade causar tanta polêmica. Em menor escala, pelo menos na nossa província, comentou-se mais a falta de fantasia do governador do que a vez em que o príncipe Henry, da Inglaterra, apareceu com uma fantasia militar com a suástica em um dos braços.

Sua excelência foi ao circuito de Momo “fantasiado” de comunista, ou seja, sem fantasia, uma vez que se diz comunista e é filiado ao Partido Comunista do Brasil – PCdoB. Qual a novidade?

Os que não sabem o partido do governador ao longo de sua história defendeu (e defende), com direito a nota oficial e tudo mais, os regimes mais tirânicos e genocidas que se tem notícia na história da humanidade, desde o stalinismo que levou milhões de cidadãos à morte e à prisão na antiga União Soviética ao regime norte-coreano na atualidade, que dispensa quaisquer outros comentários, pois resiste aí à vista de todos, provocando mortes por inanição, mantendo campos de concentração com trabalhos forçados, impondo penas coletivas e tantos outros absurdos, inimagináveis na atual quadra da história; passando ainda pelos regimes chinês, cambojano, albanês, todos eles, contando as mortes provocadas em milhões.

O exemplo mais presente e próximo da gente de regime genocida apoiado pelo partido onde o governador do Maranhão é das principais figuras (senão a principal) é o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, que destruiu a economia e a liberdade dos cidadãos daquele país, que reprime a população faminta, que já matou de fome sabe se lá quantos milhares de cidadãos; que provocou o êxodo de mais de três milhões de venezuelanos, segundo a Organização das Nações Unidas – ONU; que impede a ajuda humanitária de remédios e alimentos, enquanto os cidadãos morrem por falta de uma aspirina nos hospitais ou de fome, quando não encontram nada para coletar nas caçambas de lixo.

Ao meu sentir falece de qualquer sentido criticar-se a fantasia (ou a falta dela) do governador quando a realidade possui esse nível de tenebrosidade referidos acima.

A “fantasia” do governador compunha-se, pelo que vi nas fotos, do boné de Mao Tsé-Tung (não Fidel Castro, como referiram-se alguns. Mao já usava o boné em 1949, o outro ditador só entrou para a história dez anos depois), o genocida chinês que levou à morte, por baixo, setenta milhões de pessoas, sua excelência deve achar relevante homenagear tal figura; uma calça “verde militar”, talvez uma homenagem ao líder cubano Fidel Castro que mandou matar, por fuzilamento, milhares (milhões?) de cubanos, apenas por discordarem dele e do seu regime, inclusive, integrantes das chamadas minorias, como gays, lésbicas e demais membros da sopa de letrinhas; camisa em seda (chinesa?) uma homenagem ao regime daquele país? E, por fim, a “cereja do bolo”, os dois símbolos máximos do comunismo em todo mundo: a foice e o martelo (devidamente trabalhados em madeira de lei).

Fantasia!? Que fantasia? O governador foi para a ribalta “homenageando” ideias que respeita e figuras históricas em quem acredita – ainda que genocidas e assassinos da pior espécie –, fazendo política e tentando “tirar dividendos” até da festa de Momo.

Embora combinasse mais com o momento uma fantasia de “fofão” não “causaria” tanto impacto.

Mas, como disse alhures, a menos que a crítica e a polêmica ocorram pelo fato da excelência ter ido ao “baile sem fantasia”, não fazem as mesmas quaisquer sentido.

Pois, pior que uma fantasia de carnaval é a realidade com a qual nos defrontamos.