linchamentoPor Amon Jessen

O Maranhão voltou a ser notícia na mídia nacional e internacional, sales e mais uma vez por motivos drásticos, desta feita, por um ato de selvageria, um meliante foi espancado e linchado até a morte, tendo o seu corpo inerte sido despido e amarrado com cordas em um poste de iluminação pública, fato este, gravíssimo.

A vítima, juntamente com um menor infrator, tentaram assaltar a mão armada um estabelecimento comercial no jardim São Cristovão, e foram rendidos por populares que praticaram outro crime, de conhecimento exaustivamente de todos, sendo inclusive matéria do Programa Fantástico do domingo passado.

O bandido Cleidenilson Pereira da Silva, 29 anos, era contumaz em cometer delitos, embora fosse tecnicamente primário, tendo aliciado um menor para a sua derradeira empreitada.

Os fatos violentos de São Luís foram manchetes de vários jornais impressos, matéria de destaque em revistas semanais e blogs, aqui mesmo na capital do Maranhão no dia 07.07.2015 o jornal Estado do Maranhão, o de maior circulação, fez uma capa em que a foto da vitima amarrada ao poste era quase uma pagina inteira.

– Que tempo esses!

policialNo mesmo dia do linchamento, era cruelmente assassinado o policial militar Alex Amâncio (foto) com um tiro na testa ao ser abordado por um grupo de criminosos, na Zona Norte do Rio, mais um policial vitimado para engrossar as estatísticas dantescas, em que a cada 32h se mata um policial no Brasil. 75% dos policiais foram assassinados fora de serviço, justamente na sua vulnerabilidade, ou quando na sua folga buscava uma outra alternativa de suprir os aviltantes salários pagos para as policias, mostrando de forma transparente a falência das policias brasileiras.

O soldado não foi capa de nenhum jornal importante, não saiu em destaque nos jornais televisivos, raríssimos blogs comentaram o fato, com exceção de alguns poucos ligados à policia local daquele estado, foi apenas um policial assassinado, deixando na orfandade uma filha de três anos que dependia totalmente do pai. O quê dizer pra essa filha? As vezes, as palavras nada dizem.

O soldado Alex Amâncio era reconhecidamente um profissional exemplar, amava ser policial, e trabalhava em prol da sociedade no combate ao crime em uma cidade aonde é extremamente difícil ser policial, o outro, o Cleidenilson, estava em ponto oposto, tirando o sossego da população, o primeiro nenhum reconhecimento teve, não tendo direito aos “Direitos Humanos”, não ganhou destaque sequer na mídia, pois policial quando morre é só um numero estatístico, enquanto o segundo, virou matéria de mundo, e aqui não estou dizendo que a população fez algo correto, mas apenas busquei comentar, as desigualdades que são amazônicas.

Um dia nunca é igual ao outro, e os detalhes acabam fazendo a diferença. Depois do fatídico dia, mais outros policiais morreram Brasil a fora, e a historia se repete, ninguém comenta, e a dor é da família, como se o assassinato de um policial, fosse algo tão banal, para ser tratado como natural.

Qual de nós será a vítima da vez?

Posso compartilhar um sentimento? – o policial só tem valor na instituição quando esta produzindo, quando se aposenta ou morre, vira papel velho.

Amon Jessen.
Investigador de Polícia Civil e ex-presidente do SINPOL-MA