Por Reinaldo Azevedo
Eu não gosto dessa história de “evento simbólico” porque o simbolismo nunca está nos fatos, recipe mas na cabeça de quem o vê. E quase sempre se trata de uma distorção. Assim é com o desabamento do viaduto Guararapes, cialis em Belo Horizonte, cialis que matou duas pessoas nesta quinta-feira. Se o Brasil já tivesse sido eliminado da Copa, ele seria considerado, então, um símbolo do desastre futebolístico; caso a Seleção Brasileira seja derrotada nesta sexta (toc, toc, toc), será tomado como um prenúncio; caso derrote a da Colômbia — bem, aí será apenas um viaduto que caiu em razão, certamente, de um erro de engenharia, com ou sem dolo. Que erro há, isso é evidente. Seguidas as leis da física e da matemática e respeitadas as características do terreno e dos materiais, obras não caem.
Há, sim, uma evidente ironia macabra no episódio — e não é por acaso que a presidente Dilma Rousseff correu para emitir uma nota de solidariedade às vítimas, lamentando o ocorrido: o viaduto integrava o pacote de obras de mobilidade para a Copa do Mundo, financiadas pelo PAC. A avenida em que se encontra a obra, a Pedro I, é uma das ligações entre o aeroporto de Confins, na região metropolitana, e o centro de Belo Horizonte. Não ficou, como se sabe, pronta a tempo — o que ocorreu com boa parte das intervenções do gênero. Outra parte nem saiu do papel.
Os chamados “ganhos permanentes” com a realização da disputa no Brasil são muito pequenos em razão da incompetência do poder público, muito especialmente do governo federal. Se o evento teve algum efeito na economia brasileira, foi, como revelam os números, negativo. Na próxima terça-feira, o Mineirão abriga um dos jogos da semifinal da Copa. Se a Seleção Brasileira vencer a da Colômbia nesta sexta, realiza no estádio o seu sexto jogo no esforço de conquistar o hexa. Num outro momento, a tragédia poderia ter assumido proporções verdadeiramente dramáticas.
Um símbolo concentra as características de uma realidade mais ampla e, quando visto ou evocado, a ela remete. É evidente que o viaduto que desabou não será tomado como a imagem do Mundial de 2014, disputado no Brasil. Esse desabamento é, isto sim, um sintoma de como se fizeram as coisas, especialmente no que diz respeito às ditas obras de mobilidade, os únicos benefícios reais com os quais os brasileiros poderiam ter sido contemplados e que, com raras exceções, foram abandonadas, ficaram no meio do caminho ou foram mal e porcamente planejadas.
Também a Fifa, a exemplo de Dilma, ficou preocupada com o acidente e correu para colher informações a respeito, temendo a eventual repercussão negativa mundo afora. Em momentos assim, muita gente se mobiliza para tentar salvar ao menos as aparências. Sim, acidentes acontecem, como é sabido. Não é o primeiro numa obra ligada à Copa do Mundo. Mas não é corriqueiro que ela toda venha abaixo em plena realização do torneio. A engenharia brasileira é competente e sabe construir viadutos que parem de pé. O nosso problema segue sendo de engenharia política.
Esse erro mata muito mais.
Caro Jorge,
Esse Reinaldo Azevedo ( na verdade , o Ze Silva) articulista do caos, eh demais ! Agora ele quer culpar Dilma pela queda do viaduto ! Ate onde eu sei, essa obra nao foi contratada pelo governo federal ! Com a palavra a Prefeitura de BH.
Concordo de forma plena com o colega Francisco Soares: a obra é de responsabilidade da Prefeitura de Belo Horizonte e não do Governo Federal. Não estou apoiando o comentário por torcer por Dilma nas eleições ou qualquer partido que seja (aliás, convenhamos, há muito que a máscara das elites caiu no que diz respeito a diferenças partidárias que, na verdade, nunca existiram;o que se percebe é que o empresariado, além dos bancários, que dominam este país a nível nacional e internacional, criaram um teatro de oposições político-partidárias para enganar e dividir mais o povo, nós, as massas…). Retornando ao assunto, o que mais me chamou a atenção sobre o trágico evento é que ao ser perguntado por uma repórter sobre responsabilidades , o prefeito de “Beagá” disse que responsável não era a prefeitura, mas sim a empresa licitada que fez a obra… Meu Deus, acho que não sou mesmo deste mundo ou então sou um louco com noção diferenciada! Então quer dizer que a lei 8666, que normatiza e normaliza os processos de licitação, prevê que em tais processos quem responde por um serviço público prestado é o contratado (ente privado) unilateralmente? Ou seja, o ente público nada tem a ver com um serviço que ele oferece, eximindo-se de quaisquer responsabilidades sobre um serviço concedido que venha causar perda de vidas, como o ocorrido???… Bom, acho melhor terminar por aqui e procurar uma dessas lojas de fantasias e ver se eu encontro um par de orelhas de burro pra mim…