“Estou de pijama”, diz José Sarney

por Jorge Aragão

O ex-presidente da República José Sarney foi abordado pelo jornalista Gerson Camarotti (Globo), ao sair da posse do novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, na tarde/noite da quarta-feira (31).

Camarotti quis saber se foi realmente José Sarney que articulou a ida de Torquato para o Ministério da Justiça em substituição a Osmar Serraglio, como especulado. Sarney negou e assegurou ao jornalista: “Estou de pijama”. Veja abaixo a rápida entrevista concedida pelo ex-presidente.

Camarotti – Dizem que o senhor foi o padrinho….
Sarney – Não, nada disso! Eu estou de pijama.

Camarotti – Mas dizem que o senhor está articulando muito, ajudando o Temer…
Sarney – Não é verdade. É que vocês são… continuam com grande capacidade de invenção.

Camarotti – Como o senhor avalia a presença do Torquato?
Sarney – Eu conheço o Dr. Torquato há mais de 30 anos. É um homem brilhante e que tem grandes serviços prestados ao direito no Brasil.

Camarotti – Por que a mudança (na Justiça)?
Sarney – Isso eu não sei.

Inegavelmente continua com muita força o ex-presidente José Sarney, para o azar dos adversários que o subestimaram. Clique aqui e veja o vídeo da entrevista.

Encontro entre Sarney e Temer pode ser decisivo

por Jorge Aragão

Apesar de estar sem mandato, o ex-presidente da República, José Sarney, segue sendo um dos políticos mais influentes no Brasil e o encontro que teve com o atual presidente Michel Temer, é mais uma prova inconteste.

Temer esteve, no sábado (27), almoçando com alguns ministros do seu governo que pertencem ao PSDB, mas logo depois recebeu no Palácio do Jaburu a visita de José Sarney.

Durante aproximadamente quatro horas, Temer e Sarney debateram sobre a crise política que o Brasil vai enfrentando, principalmente após as delações dos proprietários e diretores da JBS.

O encontro deve ser decisivo para decisões futuras. Alguns afirmam que Sarney tem aconselhado Temer a não renunciar, mas alguns portais têm dito que Sarney já teria dito a Temer que o melhor caminho seria ele optar por uma “saída negociada”.

A “saída negociada” é a tese que mais segue crescendo, principalmente se Temer tiver mesmo perdido a governabilidade junto ao Congresso Nacional. Sem forças, o melhor caminho para Temer seria tentar comandar a sua sucessão.

É aguardar e conferir.

O jogo da semântica

por Jorge Aragão

Coluna do Sarney*

As palavras, como as pessoas, têm sua vida, nascem, exploram sua juventude e morrem no desaparecimento do uso. Algumas, intencionalmente; outras, em razão mesmo do desgaste. Recordo-me a primeira vez que ouvi a resposta a pergunta que fiz: “Como está nosso amigo comum, Eurico? Ele me respondeu: “Joia.” Eu nunca tinha ouvido essa palavra com esse significado. Depois, foi massificada como expressão de bem-estar.

Outro amigo meu, quando viajei a Nova York e lá comentavam sobre o Brasil, me disse:

– É o país mais legalista do mundo. Quando se pergunta até sobre as pessoas:

– Como vai?

A resposta vem rápido:

– Tá legal.

Isso mostra nosso apreço à lei e a condenação a tudo que está fora dela.

Que grande hipocrisia pensar assim! Tá legal não tem explicação. É tá legal, e se aplica a muitas coisas.

Agora, a moda e a palavra que entraram em circulação foi delação, que passou a ser ofensiva para aqueles juízes que levam o pobre coitado a mostrar uma fraqueza de conduta. O delator hoje é colaborador. A primeira vantagem que ele tem ao delatar é trocar de conceito: de pessoa de conduta ultrajante para pessoa de conduta heroica.

A palavra também é objeto de consumo: consome-se até, como a própria moda, deixar de ser moda. A juventude, esta, tem o seu vocabulário próprio. E eu, outro dia, tomei conhecimento da minha ignorância do vocabulário jovem quando perguntei a um filho meu se gostava de skate, ele me respondeu: “Meu tio, é massa.” Eu, inocentemente, perguntei “Massa de quê?” “É massa, meu tio. O senhor não sabe o que é massa?”

Recordo-me, com saudades, de uma palavra que o velho Nascimento Morais, meu companheiro de redação no jornal O Imparcial e notável figura do jornalismo maranhense, me passou num conselho: quando quiser escrever uma catilinária sobre alguém, comece com a palavra sevandija. Se não tiver sevandija, não é lapada nas costas. Mas ela já desapareceu. E eu mesmo, com saudades dela, tenho receio de empregá-la para não parecer esnobe e querer obrigar a consulta a um dicionário.

Tive um colega na Academia Maranhense de Letras que tomou parte numa discussão levantada pelo professor Mata Roma sobre semântica. Ele levantou-se e recitou os versos de Bilac: “Amai para entendê-las!/ Pois só quem ama pode ter ouvido/ Capaz de ouvir e de entender estrelas.” E concluiu: “Olhe o jogo da semântica.” Nem ele sabia o que era semântica. O velho Mata Roma disse: “Aqui não quero falar mais. Encerro minhas considerações nesse momento.” E ficamos, em nosso cotidiano na Academia, de vez em quando, a olhar para o outro colega e dizer: “Olhe o jogo da semântica.”

Domingos Vieira Filho teve a pachorra de coletar palavras do nosso linguajar. Escreveu um livro excelente A linguagem popular do Maranhão. Nela encontramos algumas expressões que já estão mortas, como, para citar uma erudita, machavelismo, que nada mais é do que a cultura chegando ao povo. Vem de Maquiavel e maquiavelismo. Além das eruditas, há as populares: canto, cruzeta, qualira.

Quero encerrar essas lembranças e brincadeiras com palavras repetindo uma nova expressão, que circula hoje entre os jovens e até entre os velhos: “Tô de boa.”

José Sarney

Sarney de Volta ???

por Jorge Aragão

Apesar do cenário favorável apontado pelo colunista Cláudio Humberto, os mais próximos do ex-presidente Sarney asseguram que ele realmente não pretende voltar a assumir nenhum mandato eletivo.

De qualquer forma, os números expressivos mostram o reconhecimento dos eleitores do Amapá a José Sarney.

O prestígio de José Sarney e Roseana

por Jorge Aragão

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Definitivamente o ano de 2017 não começa muito bem para o governador Flávio Dino. Se já não bastasse os escândalos da sua gestão, como o caso FUNAC, Dino terá que engolir a seco a comprovação, mais uma vez, do prestígio político do ex-presidente José Sarney e da ex-governadora Roseana Sarney.

Enquanto alguns políticos ligados ao governador comunista e secretários de Estado se espremiam para aparecer ao lado do ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Maurício Quintella Lessa, José Sarney e Roseana Sarney receberam uma visita de cortesia do ministro na residência do ex-presidente.

O ministro veio ao Maranhão para cumprir agenda de trabalho, como assinar a ordem de serviço e autorizar mais um trecho de duplicação da BR-135 (Itapecuru a Miranda), vistoriar obras de construção no Porto do Itaqui, entre outras.

Entretanto, após cumprir a agenda na capital, Mauricio Quintella fez questão de ir até a residência de José Sarney para lhe visitar, assim como reconhecer o empenho dele e da ex-governadora Roseana Sarney para que essas obras fossem efetivamente feitas no Maranhão.

roseana1“Eu não poderia vir ao Maranhão para vistoriar obras tão importantes e dar ordens de serviços para novos trechos de duplicação da BR-135 e pavimentação da BR-226, sem vir fazer uma visita ao presidente José Sarney e a ex-governadora Roseana Sarney e ao seu grupo político, deputados federais da bancada e senadores. São obras esperadas há décadas e só agora realizadas, e esse grupo político sempre defendeu. A bancada federal garantiu recursos necessários para que essas obras acontecessem efetivamente, e o presidente Temer garantiu prioridade para essas obras”, assegurou o ministro.

Já a ex-governadora Roseana Sarney também ressaltou a importância das obras e agradeceu o reconhecimento do ministro Maurício Quntella.

“Fico muito feliz por receber o ministro Maurício e agradecer a ele pelo empenho na retomada de obras tão importantes para o Maranhão, obras pelas quais lutamos por muitos anos para que elas fossem viabilizadas. Foi muito importante a atuação dos deputados, que se uniram para viabilizar os recursos, e acho que todos nós temos uma parcela de contribuição neste processo. Vamos torcer agora para que esse processo dê certo”,

Também participaram do encontro, além de Roseana e José Sarney, o senador João Alberto (PMDB) e os deputados federais Juscelino Filho (DEM) – coordenador da bancada federal maranhense no Congresso, André Fufuca (PEN) e João Marcelo Souza (PMDB).

Indiscutivelmente, José Sarney e Roseana demonstraram que ainda gozam de prestígio junto a classe política e até mesmo em relação ao Governo Federal, afinal prestigio não se ganha, se conquista, uns têm, outros não.

Bem simples assim.

O Natal do Menino Jesus

por Jorge Aragão

feliznatal

Coluna do Sarney – São Paulo resume a felicidade de ser cristão, quando, na sua segunda Carta a Timóteo, diz: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, e guardei a fé.”

Guardar a fé é o mais difícil de cumprir entre os deveres cristãos. Fugir das vacilações, das tentações do agnosticismo e acreditar até o fim nos fundamentos do cristianismo.

Quem me fez cristão, pregando os seus mandamentos, foi minha mãe. Nunca presenciarei ninguém que tenha tido tanta fé quanto ela, fortificando-a a cada dia, e, coerente com sua vida, sua última palavra foi Jesus. Mas minha mãe não ensinava só o catecismo, mas a base do cristianismo, aqueles mandamentos simples que o Cristo trouxe: “Todos somos filhos de Deus” – e aí está o mistério do Natal; “Amai-vos uns aos outros”, “Perdoai os vossos inimigos” e orai, porque a oração é a ponte do nosso cotidiano com Deus.

A forte lembrança do Natal está associada a minha infância em São Bento. A Missa do Galo e o comando de minha avó, reunindo o rebanho da família. As cantatas de Natal e a Igreja de São Bento com as colunas pintadas, imitando mármore, que para mim eram tão bonitas que cheguei ao exagero de considerá-las iguais às da Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Tempos da infância em que se chamava pelo Menino Jesus – que hoje deixou de ser a primeira figura do Natal: Papai Noel tomou o seu lugar e, em vez do incenso a perfumar nossas almas, criou-se o gosto do chocolate.

O Natal é o mistério de um menino: Deus que assumiu a condição humana, para mostrar que não estamos sós na face da terra, que ele está conosco, conhece as vicissitudes de viver e de nascer. Desse nascimento surgem as figuras da mãe, de quem recebemos a graça da vida, e do pai, São José, que aceitou a missão de, mais que pai, ser o companheiro de Maria. Sua presença é silenciosa, talvez a mais silenciosa do Novo Testamento, na sua simplicidade de carpinteiro.

O Natal tem uma palavra chave, amor. O Amor de Deus encarnado nesse menino que teve um destino trágico, pregado na cruz. São João, talvez o mais belo e brilhante dos Evangelistas, diz que “Jesus amou os homens até o fim”. E o padre Vieira pegou este mote para dizer que se colocássemos em Cristo o coração dos homens e nos homens o coração de Cristo, esse transplante de coração iria dar aos homens a plenitude do amor e a Cristo a maldade dos homens.

O Natal é a festa do cristianismo, da Esperança que não deve desaparecer nunca, da alegria de que todos estamos destinados à salvação. O papa Francisco diz, no seu último Angelus, como deve ser a nossa atitude diante do mistério do Natal: “Maria ajuda-nos a colocar-nos em atitude de disponibilidade para receber o Filho de Deus na nossa vida concreta, na nossa própria carne. José estimula-nos a procurar sempre a vontade de Deus e a segui-la com plena confiança. Ambos se deixaram aproximar por Deus.

O Natal é festa do Menino e de sua mãe, da maternidade, da glória de ser mãe e da transmissão da vida que traz a eternidade, pela graça do nascer.

O nosso Natal é o Natal do Menino Jesus e de, em nossa alegria, lembrar o cântico que diz tudo:

“Glória a Deus nas Alturas e Paz na Terra aos homens de boa vontade.”

“Deixa grande lacuna na política do Maranhão”, diz Sarney sobre Castelo

por Jorge Aragão
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Foto: reprodução do vídeo gravado por Sarney

O ex-senador José Sarney lamentou a morte do deputado federal João Castelo. Em vídeo gravado em sua residência, e divulgado com exclusividade por OEstado.com [assista aqui], o ex-presidente da República afirma que Castelo deuxou uma grande lacuna na política do Maranhão.

O deputaod federal Sarney Filho também lamentou, em vídeo, a morte de Castelo. Ele lembrou que durante o mandato de governador do tucano, ele pertenceu à sua base na Assembleia Legislativa.

Abaixo, a íntegra o depoimento de José Sarney.

A morte do deputado João Castelo deixa uma grande lacuna na política do Maranhão, onde durante 50 anos ele ocupou uma posição de liderança, sendo governador, prefeito de São Luís, deputado federal, senador da República e, ao mesmo tempo, foi responsável por grandes obras e participou ativamente da política do Estado. Nós mandamos à sua família nossos sentimentos de pesares e também a todo o Maranhão pela grande perda que nós acabamos de ter“.

Coluna do Sarney: Violência e banditismo

por Jorge Aragão

revolver_violencia_thumb2Hannah Arendt dizia que o mundo moderno está embrutecido e que uma das características mais trágicas é a banalização da violência, hoje percebida e tolerada por todos como um simples elemento do cotidiano. Tive oportunidade de abordar várias vezes no Senado esse sentimento de que há uma regressão na humanidade. No passado matava-se pela disputa de comida, pela ocupação de território, na luta pela sobrevivência – um instrumento da evolução das espécies. A consciência do homem estava num estado primitivo, igualada à dos outros primatas. Centenas de milhares de anos depois, volta-se a matar, não mais para poder viver, mas como se fosse um gesto normal da vida. Ninguém se choca com os números de homicídios, com as chacinas, com a crueldade. Os crimes mais hediondos são tidos como normais.

Lembro-me de que, quando foi votado um projeto de lei considerando a corrupção crime hediondo, apresentei uma emenda para que se incluísse na mesma categoria o homicídio. O autor do projeto, o então senador Pedro Taques, reagiu dizendo que enfraquecia a mensagem da corrupção. Para mim matar também é corrupção, mas hoje se acha que a corrupção é mais danosa do que os crimes contra a vida. Minha emenda foi rejeitada.

Agora estou estarrecido com os números de homicídios na ilha de São Luís: de janeiro a novembro 642 pessoas foram mortas, projetando uma taxa próxima a 70 por cem mil habitantes na ilha que se chama do amor. Nos países do primeiro mundo ela está na casa de 2/100.000. Na Índia, 2º lugar em números absolutos de homicídios, a taxa é de 4/100.000; no Brasil é de 25/100.000; e na ilha de São Luís, repito, estamos com 70 por 100 mil. Será que ninguém se revolta, denuncia, protesta, combate ou se inconforma? Volto a Hannah Arendt quando diz que a violência se tornou uma banalidade.

Acho que com esses números é o caso de declararmos estado de calamidade pública no combate à violência. E isso se reflete na vida da comunidade, gerando o medo, fazendo das casas prisões, com grades nas janelas e nas portas… e toda sorte de tentativa de defesa contra o crime. Andar nas ruas, nem pensar. Em cada família há uma história de violência a relatar.

Também é de estarrecer que apenas 3% dos casos de homicídio sejam apresentados à Justiça e que as condenações sejam tão leves – um homicídio pode significar, com a progressão da pena, 2 anos em regime fechado. Esta semana vimos um culpado de corrupção ser condenado a 19 anos de prisão, porque tinha dividido uma propina de 5 milhões com três pessoas – e uma mulher, que tinha assassinado o marido, esquartejado o corpo, colocado na geladeira, depois em malas e espalhado os pedaços em terrenos baldios, também ser condenada a 19 anos! Assim, o tirar a vida vale o mesmo que o roubar cinco milhões.

E o pior: as maiores taxas de homicídio estão entre os jovens de 17 a 24 anos, que matam e são mortos, com predominância de pretos e de pobres.

Uma sociedade assim não pode senão ser acusada de estar podre. E o Maranhão – de povo pacato, ordeiro, pacífico -, transforma-se num exemplo de violência e banditismo.

José Sarney

Coluna do Sarney: A democracia e os poderes

por Jorge Aragão

Foi um ex-presidente do Supremo Tribunal Federal quem, thumb há mais de 10 anos, profetizou que se estava estabelecendo no Brasil um procedimento que iria dar muito trabalho às instituições. Era o fato de que, quando se criava um impasse político, em geral no Legislativo, estava se criando também uma oportunidade de o submeter à Justiça, uma espécie de terceira instância, dando ao STF a função de harmonizar conflitos que deviam ser resolvidos pela própria política. Era o tempo do procurador Luís Francisco, que passou a ser popularíssimo porque tomava a frente para ser o xerife das mazelas do país e da política.

A Constituição de 1988 criou as figuras da ADIN, dos direitos difusos – estes até fui eu quem criou, em 1985, quando mandei a Lei da Ação Civil Pública, que deu ao Ministério Público o grande instrumento de força que hoje tem -, e das ações cautelares que agregaram ao Poder Judiciário um protagonismo muito grande. A esse protagonismo chamou o ministro Jobim de judicialização da política. E realmente isto aconteceu, com a consequência inevitável de politização da Justiça, hoje envolvida na solução das questões maiores e mais complicadas do Executivo, com grande apelo a aquilo que Ulisses Guimarães chamou a voz das ruas.

O Brasil sempre foi acostumado ao Poder Moderador, exercido no Império pelo imperador, assessorado pelo Conselho de Estado. Como o imperador tinha o poder de dissolver o Congresso e convocar eleições, quando surgia o impasse ele vinha e usava seu poder moderador. Graças a isso os partidos não se perpetuavam no poder, já que ele gostava da alternância. Se esse poder o auxiliou a governar com a Constituição que mais tempo durou – a de 1824 -, por outro lado criou o germe do republicanismo, a que aderiram aqueles que ficavam prejudicados com as mudanças de gabinete.

Na República, não havendo Poder Moderador e as crises continuando, como é próprio do Estado e da política, os militares, que a tinham fundado, passaram a exercê-lo, com as intervenções salvacionistas de que sofremos até 1985.

Agora surge uma grave crise institucional entre o Poder Legislativo e o Poder Judiciário, e isso é muito mal para o país, necessitando que todos nós, brasileiros, lutemos para que ela seja superada. Ninguém mais do que eu, quando exerci a política ativa, prestigiou o Judiciário, compreendendo que, nas democracias fortes, é ele que assegura a força das instituições e sua vigilância. Assim, devemos dar condições aos nossos juízes para que eles cumpram a função moderadora necessária nas democracias fortes.

A democracia começou a tomar corpo, na instituição do Estado moderno, com a evolução da separação dos poderes de somente entre Executivo e Legislativo para a antiga fórmula de Aristóteles, retomada sucessivamente por teóricos como Maquiavel, Locke, Bodin, Hobbes até assumir a forma tripartite consagrada em O Espírito das Leis, do barão de Montesquieu, em que o Judiciário se torna a chave do sistema. É sobre ele que pesa a maior responsabilidade da harmonia entre os poderes.

É hora de fortificar o Poder Judiciário e acabar com esse mal-estar entre Congresso, STF e MP.

José Sarney

O medo como intimidação

por Jorge Aragão

sarney3Coluna do Sarney – Já citei muitas vezes o aforismo greco-romano de que “primeiro no mundo o medo criou Deus”. O medo é um sentimento que nos une aos animais e está relacionado com o conhecido e o desconhecido. Sabemos o que podemos sofrer e imaginamos o que podemos sofrer.

Com a vida social, pill o homem foi se libertando do medo. O Leviatã nos explica que o medo da morte leva o homem a buscar a paz que só a sociedade pode garantir. Mas à paz se opõe o desejo de poder. A busca de poder desequilibra a harmonia social e reintroduz o medo.

Se no começo o medo era simples – de animais, pharmacy de fenômenos naturais ou do vizinho -, hoje, sem abandonar essas sensações atávicas, inclusive a visão do lobisomem e do bicho papão, ele tornou-se muito complexo. Sabemos que existe um arsenal nuclear que pode destruir, várias vezes, a vida sobre a terra; ou podemos ter o mesmo resultado se não formos capazes de reverter a marcha do aquecimento global – que Deus dê ao Trump o bom senso que ele não parece ter! E conhecemos as guerras, as mais midiáticas, como as da Síria e do Iraque, ou as mais escondidas, como a do Sudão do Sul, que tomam a forma do genocídio. E a fome, que tanta gente passa, e é outra maneira de morrer.

Quem não tem medo da violência, seja a das armas, que mantém o Brasil numa triste liderança mundial, e que chegou ao Maranhão com a sua brutalidade, seja a dos acidentes de trânsito, com a legião de vítimas aumentando agora pelo uso do smartphone? Ou de perder o emprego, de não poder ganhar o pão nosso de cada dia? Ou de ficar doente, e não ter socorro, tal é o estado de calamidade em que está a rede de saúde? E a ideia de aprender, da educação melhorar a vida das gentes, que vai por água abaixo?

Michel de Montaigne, que viveu em época de guerra de religiões, quando bastava uma suspeita para um massacre, escreveu um dos capítulos de seus Ensaios sobre o medo. Ele lembra que “aqueles que têm um medo forte de perder seus bens, de ser exilados, de ser subjugados, vivem em completa agonia, sem conseguir beber, comer e repousar, enquanto os pobres, os banidos, os criados vivem frequentemente em completa alegria. E tantas pessoas que, na impaciência causada pelo medo, se enforcaram, afogaram e precipitaram, nos ensinando que o medo é ainda mais insuportável que a morte.” E tem uma frase definitiva: “O de que tenho mais medo é do medo.”

É que o medo é escorregadio, ele se insinua nos espíritos e coloca as pessoas fora de si, capazes de fazer o que não fariam – contra o próximo e contra si mesmo. Voltando ao que Hobbes colocou no Leviatã, pior que o medo é o uso do medo como instrumento do poder.

No Maranhão hoje o medo é esse instrumento, utilizado politicamente. Todos têm medo: os comerciantes têm medo das fiscalizações dirigidas; os políticos têm medo das comissões de inquérito, semelhantes às da Inquisição, que levavam às fogueiras; os funcionários têm medo das ameaças e das demissões; cada cidadão tem medo de uma forma de perseguição. Uma denúncia aqui, uma demissão acolá, uma ameaça mais além, chantagens, pressões, insinuações, calúnias, difamações, falsidades… Tudo isso rasga a coesão social, rompe a vida das famílias, mina o futuro.

A ideologia semeia os dogmas – e ai daqueles que não acreditem. Hoje ela desapareceu, tornou-se retórica antiquada; só fez mal à humanidade. Nada fez mais medo, nem a guerra nuclear, que o regime encarnado em Stalin, que matou mais de 30 milhões de pessoas. Será que alguém pensa que o comunismo pode renascer no Maranhão?

Que saudade do medo simples de minha infância, quando – é minha primeira memória – eu e meus irmãos espiávamos, de detrás da porta, os índios que entravam na cidade em fila!