Caminhões e estradas

por Jorge Aragão

Por José Sarney

Em matéria de greve ninguém tem mais experiência que eu. Não em fazê-las, mas a de conviver com elas. Quando fui presidente da República enfrentei doze mil e tantas greves — o número exato deve estar nos arquivos da Abin, que sucedeu ao SNI do meu tempo.

Noventa por cento delas de caráter político, pois tinham a finalidade de desestabilizar o governo, por sua investidura com a morte, sempre lamentada, de Tancredo Neves. O momento era difícil, pois era um período de transição de regime autoritário para os ventos da liberdade de uma democracia plena.

Sabe Deus o que me custou lidar com elas. Forças políticas e setores do poder econômico não admitiam que tivéssemos sucesso e buscavam o caos, com vistas em minha deposição. Mas, com as virtudes da paciência quase bíblica, venci essas agruras, a democracia não morreu em minhas mãos e entreguei o País democratizado, com o fim do militarismo (que por definição é agregação de poder político ao poder militar) e vivemos estes anos de absoluta liberdade, eleições livres, alternância de poder e a cidadania forte.

Agora vemos o quanto de perplexidade e incerteza vive o País com a paralização das estradas e, como consequência, o fim do abastecimento.

Tenho sido profeta, embora melhor seria que não o fosse. Condenei a Constituição de 1988 dizendo que o País ia ficar ingovernável. E ficou. Condenei esse modelo rodoviário, com o sucateamento das estradas de ferro e a resistência de um País tão cheio de rios navegáveis às hidrovias. Contra minha opinião a Constituinte acabou com o Fundo Rodoviário Nacional, e os recursos que o constituíam foram transferidos para o ICMS, com a destinação em grande parte para a ação política.

Recebi um boné de ferroviário quando preguei e fiz um plano para implantação de ferrovias no país. Quis fazer a Norte-Sul, mas não deixaram, e Lula muitas vezes penitenciou-se por combatê-la — e a fez. Conclui a Estrada do Aço e a inaugurei. Tentei fazer a Leste-Oeste, ligando Mato Grosso aos portos de nossa Costa, e deixar uma rede ferroviária que pudesse ser operada mais barato e diminuir nossa dependência do petróleo. Não deixaram. Quase me matam, tantas críticas e resistências!

No Maranhão salvei a ferrovia São Luís-Teresina dos planos de Geipot — o Grupo Executivo de Integração da Política de Transporte, que a partir de 1965 comandou o setor na área federal — de erradicação das estradas deficitárias, como fizeram no Pará com a Bragantina (Belém-Bragança). E ela sobreviveu e leva combustível para todo o Meio Norte, até ao Ceará.

Agora estamos vivendo os efeitos dessa falta. Na raiz dessa grande e até agora não resolvida crise está a vulnerabilidade de nossa malha de transporte, a totalmente estrangulada malha rodoviária e a ausência de redes ferroviária e hidroviária. Somos totalmente dependentes dessas estradas rodoviárias sempre estragadas e sobrecarregadas. Disse que isso ia acontecer e aconteceu.

Restou-me apenas o boné que os ferroviários de deram, como sendo o “Presidente Ferroviário”.

Epitácio Cafeteira

por Jorge Aragão

Por José Sarney

O tempo desfaz uma das maiores ilusões que abastece o ego político: o pensar que sobreviveremos e seremos sempre lembrados pelo que realizamos.

Mas o verdadeiro político — e como temos falsos profetas, também temos falsos políticos — é aquele que pensa sempre coletivamente, nunca de forma egoísta, extremamente individual: pensamos sempre que o que vamos fazer é em favor dos outros. Assim construímos escolas, fazemos estradas, hidrelétricas, e acreditamos, quase como se fosse uma religião, em ideias, e delas construímos nossas ilusões.

A morte de Cafeteira me faz pensar como o tempo corrói essas ilusões. Assim é com certa melancolia que o vejo desaparecer, e com ele a lembrança de tudo que realizou. Poucos políticos em nossa terra foram tão populares. Ele tinha um jeito e um modo de saber comunicar-se com o povo e estabelecer uma comunicação saborosa, que tocava a alma das pessoas.

Conheci Cafeteira, em 1961, quando eu era deputado federal. Ele trabalhava na agência do Banco do Brasil, no Congresso, e era meu interlocutor constante, que pouco a pouco foi ganhando intimidade.

Em 1962 a oposição rachou-se, e o PSP, que era o maior partido dela, não quis fazer mais a aliança das Oposições Coligadas. O objetivo era isolar-me para que, mesmo se obtivesse uma grande votação, não alcançasse a legenda necessária para reeleger-me.

Então, na ausência de políticos que quisessem compor a nossa chapa — eu, então na União Democrática Nacional e seu presidente estadual —, convidei o ex-deputado Pedro Braga, brilhante intelectual e político de grande talento; o Dr. Cesário Coimbra, do PTB, partido pequeno; e aventurei-me a convidar o Cafeteira para que também tentasse entrar na política do Maranhão. Ele aceitou.

Fomos para uma chapa de quatro candidatos, que se dizia ser de nenhuma perspectiva de qualquer vitória. Mas obtive grande votação (já então se falava em meu nome para governador), e nossa chapa, em que ninguém colocava fé, saiu não apenas com um deputado de grande votação — eu, então, com 32 mil votos, necessários para conquistar duas cadeiras; o segundo colocado foi o Pedro Braga, que obteve 3.200 votos; Cafeteira e Cesário Coimbra, suplentes.

Pedi licença algumas vezes, dando oportunidade a Cafeteira de assumir a Câmara dos Deputados. Foi numa dessas oportunidades que ele, com grande senso político, apresentou uma emenda constitucional dando autonomia a São Luís para eleger o seu prefeito, cargo para o qual ele foi eleito. Aí iniciou um caminho brilhante de prefeito, deputado federal, governador e senador. Foi assim que ele, com grande talento, exerceu sua carreira, que marcou a história política do Maranhão.

Tivemos, por essas vicissitudes da vida e da política, de muitas vezes estarmos separados, adversários duros, em partidos diferentes. Tive, entretanto, uma grande sorte, e ele também dizia a mesma coisa, de reencontrá-lo, e, depois de ser seu adversário, nós nos reaproximamos, e eu o indiquei para governador, quando era presidente da República, e nele votei. Depois novamente ficou ao nosso lado, compondo a chapa de Roseana para governadora, ele para senador.

Já então vivíamos os tempos da nossa primeira amizade, o afeto e a estima e a solidariedade que marcaram os últimos anos da sua vida.

Confesso que foi com profunda emoção que senti a sua morte. Fui o seu companheiro solidário e amigo durante a última década. Aí conheci outra faceta de sua personalidade: seu estoicismo no longo sofrimento, que acompanhei de perto. Conheci sua família, sua filha Janaína e seus netos, e uma pessoa extraordinária, que o encheu de afeto e, com sacrifício, dele zelou como um anjo, sua esposa, Isabel, exemplo dessas mulheres bíblicas.

O Maranhão perdeu um grande político. A geração das nossas lutas de oposição do tempo de Millet, Alexandre Costa, La Rocque, Neiva Moreira, Odylo Costa, filho, Manuel Gomes, Nunes Freire, Luís Rocha, Alarico Pacheco, Lino Machado, Genésio Rêgo, Clodomir Cardoso, Satu Belo e tantos outros. Era uma época diferente, em que não existia o ódio nem a perseguição. Nem era necessário mudar de calçada para não encontrar o seu opositor.

O tempo já consumiu cada um deles, e com eles aquele clima da luta que nos envolvia, criando e dissolvendo afetos, mas todos marcados pela paixão da vida pública.

Mundo, Vasto Mundo

por Jorge Aragão

Por José Sarney

Nova Iorque. — Estou aqui nos Estados Unidos acompanhando minha esposa, que se submeteu a uma difícil operação no joelho, buscando voltar a andar, ela que há quatro anos está em cadeira de rodas. Mas o nosso interesse político está sempre ligado.

A primeira coisa que constato é a verdade do nosso velho ditado: “Aqui e lá más fadas há”. Eu estou no lá (EUA), mas também no aqui (Brasil). O que nós chamamos nossas desgraças não são somente nossas, mas de todos.

Aqui (EUA) vemos o que já se processa há muitos anos no mundo ocidental, e não sabemos para o que caminhamos, com uma forte tendência que nos aponta para o fim da democracia representativa. O modelo que exercitamos de representantes do povo, eleitos periodicamente, está agonizante. Em todo lugar os deputados são alvos de profunda desmoralização, acusados de corrupção e de gozo de privilégios, prato diário da imprensa. A internet, através das redes sociais, e a televisão, como formadora da opinião pública, tornaram-se os principais interlocutores da sociedade democrática.

A pergunta que fazem é quem representa o povo: o parlamento, a imprensa ou a mídia como um todo?

Todas as respostas demonstram que estamos não num mundo em transformação, mas num mundo já transformado. Tudo mudou e muda. Sabemos que os parlamentos vivem momentos difíceis e de perplexidades. Mas foi neles que a democracia moderna se consolidou e passou a existir de fato, a partir da notável Magna Carta (1215), imposta ao Rei João Sem Terra, na Inglaterra. Daí em diante chegou-se à instituição do parlamento, depois exportado para o mundo todo, acoplado à fórmula de Montesquieu dos três poderes: legislativo, executivo e judiciário, um fiscalizando o outro, os charmosos checks and balances — fórmula que surge na época da criação da Constituição americana. Mas o que vai substituí-los? Eu, há alguns anos, analisando este fenômeno disse, em discurso no Senado, que as tendências estavam a indicar a democracia direta, isto é, onde cada um governaria pessoalmente. Mas como isso ocorrerá? Será que a tecnologia vai tornar possível que do celular cada cidadão possa tomar decisões de Estado? Até chegarmos lá muita água vai rolar.

Aqui (nos EUA), como no Brasil, o executivo e o legislativo estão em grande desgaste. O presidente Trump é alvo de todas as acusações, que invadem sua família, seu passado de aventureiro econômico, sua predileção por atrizes pornográficas e seus negócios obscuros. TV e jornais se encarregam disso. A Justiça já está chamada à colação, e os procuradores também dela participam. Apenas a Corte Suprema, como é da tradição americana, não fala, não ouve, não opina e mantém sua posição de proteger a Constituição, que aqui é sagrada: tem mais de duzentos anos, e é muito difícil emendá-la.

Para complicar tudo isso, Trump, depois da desastrosa ocupação do Iraque por W. Bush, desencadeou agora outra perspectiva de tensão nuclear, denunciando o acordo do Irã.

Graças a Deus, estamos livres disso desde que Alfonsín e eu acabamos com a disputa pela bomba nuclear entre Brasil e Argentina, prestando à humanidade o grande serviço de desnuclearizar a América do Sul — que eu consolidei propondo e aprovando na ONU a Resolução que considera o Atlântico Sul área livre de armas nucleares.

E, assim, vejo os EUA muito diferentes daquele que visitei pela primeira vez, em 1961, passando três meses nas Nações Unidas, como membro da Comissão de Política Especial da XVI Assembleia Geral, onde anunciei, pela primeira vez naquela Casa, a posição do Brasil condenando o apartheid, a famigerada política da África do Sul de segregação dos negros.

Mas este é um país extraordinário, que não podemos deixar de admirar e louvar, que fez com que surgisse da América a nação dos direitos humanos, da liberdade, da igualdade e dos grandes ideais democráticos.

Sarney acredita que união da Oposição derrotará Flávio Dino

por Jorge Aragão

O ex-presidente da República, José Sarney (MDB), em entrevista concedida à coluna Roda Viva, do jornalista e escritor Benedito Buzar, afirmou que o governador Flávio Dino será derrotado e não conseguirá a reeleição.

Sarney acredita que a eleição no Maranhão será definida no Segundo Turno e nesta “nova eleição”, a união da Oposição derrotará o comunista.

“Teremos Segundo Turno. Trata-se de uma questão aritmética e não de política. No segundo, o governador perde”, afirmou.

O ex-presidente também afirmou que o comunista tem governado sem Oposição, que a Oposição enfrentada por Flávio Dino é apenas o seu fraco Governo.

“Ele tem governado sem oposição. A única [oposição] que existe é ele mesmo, governando desgovernando, andando para trás. Saímos do crescimento para o atraso”, disse.

Sarney deixou claro que os oposicionistas possuem um inimigo em comum e o mesmo objetivo, reafirmando a importância da união da Oposição nas eleições deste ano.

“Todos têm um inimigo em comum: o governador e o forte ideal de lutar contra o medo, a vingança e a cultura do atraso”, desatacou.

Agora é aguardar e conferir, para realmente sabermos se tem ou não razão José Sarney.

Sarney lamenta eventual prisão do ex-presidente Lula

por Jorge Aragão

Sem precisar atacar o Supremo Tribunal Federal e muito menos o juiz Sérgio Moro, o ex-presidente da República, José Sarney, lamentou a eventual prisão do amigo e também ex-presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva (PT).

Para Sarney, deveria ter prevalecido a Constituição Federal e se aguardar o trânsito em julgado. O maranhense também afirmou que a eleição deste ano, sem a presença de Lula, será uma grande frustração para boa parte da população brasileira.

“É profundamente lamentável essa a decisão. Penso que a eleição deste ano sem a presença de Lula será uma grande frustração a uma parcela expressiva da população brasileira. Com todo respeito que tenho às decisões do Supremo Tribunal Federal, penso que deveria ter prevalecido o texto da Constituição que prevê que ninguém deve ser considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória “, afirmou.

Sarney fez questão de destacar o bom relacionamento e a amizade entre ele e Lula.

“Lula fez um excelente governo. Tenho por ele particular admiração e sempre recebi dele tratamento correto e cordial. Minha manifestação de apoio tem ainda a carga de ser considerá-lo um amigo”, finalizou Sarney.

Lula tem até as 17h desta sexta-feira (06), para se apresentar a sede da Polícia Federal em Curitiba.

Coluna do Sarney: A transparência e a liberdade

por Jorge Aragão

Por José Sarney

A revelação de que a assessoria política de uma firma inglesa incluía a manipulação de 50 milhões de contas do Facebook me faz retomar algumas reflexões que escrevi há quinze anos e não perderam atualidade.

O paradoxo do século XXI parece residir no feito de que o indivíduo considerado livre aparece como nunca destinado à opressão. Ele é livre e soberano, porém ao mesmo tempo frágil e vulnerável. E passa a ser o único culpado pelas decisões que toma.

A exigência de transparência na sociedade de informação se tornou uma exigência fundamental. Porém, se por um lado dá poder aos cidadãos e permite acompanhar a discussão do poder por meio da difusão do controle, por outro, em nome da transparência, o poder constrói uma série de sombras bárbaras que não são identificáveis nem controláveis.

A diferença entre espaço público e privado — o direito do cidadão à privacidade — é considerado como garantia fundamental das liberdades públicas. Cada ser humano deveria ter assegurado seu sigilo, sendo a inviolabilidade de correspondência e a proteção ao domicílio ícones dos direitos fundamentais.

A definição do equilíbrio fundamental entre a abertura que enriquece, porém debilita, e a sombra que empobrece, porém consolida, entre a transparência que ilumina a comunidade e o sigilo que a protege, se descreve por meio de novos termos, e definir este equilíbrio se torna impossível.

O cidadão que luta por mais transparência para exercer seus direitos e deveres acaba tendo que ser, ele mesmo, transparente. A sociedade de informação o posiciona diante de alternativas cruéis: ou opta pela solidão de um ermitão, e oculta todos seus sigilos, porém em liberdade, ou pela escravidão do ascetismo, ou ainda revela-se em cada um de seus personagens com o risco de ser preso pelos fios de uma tela invisível. Evitar que os fios se encontrem, fragmentar a informação de si mesmos, multiplicar suas custódias e impedi-las de estabelecer relações entre si, se torna então a única garantia fundamental da liberdade.

A melhor maneira de prevenir eventuais abusos não é concentrar a informação, o que é frágil. Deve-se, ao contrário, dispersá-la de maneira que fique longe de qualquer predador. Para que não se torne absoluta, a transparência deve ser organizada e fragmentada.

Ela deve adquirir os contornos de uma comunidade particular e dividir-se, seguindo lógicas funcionais, de maneira que ninguém, nem qualquer autoridade, possa acessar a soma das informações relativas a uma pessoa. Não somente cada pessoa tem direito a sua parte do sigilo, como a comunidade será definida pelos sigilos que ela compartilha com seus membros. Assim, um novo dilema se apresenta a cada pessoa, pois quanto mais aceitamos compartilhar, mais nos tornamos transparentes, mais ficamos sob a vigilância do grupo, e quanto mais protegemos nossa parte do sigilo, menos solidariedade podemos pedir ao grupo.

Quando, no entanto, a tecnologia que nos é oferecida como segura para revelarmos nossos gostos e segredos é passada a manipuladores de nossas opiniões, mergulhamos não numa ducha fria, mas num mar glacial de outra categoria: agora o que temos a temer não é o Estado, mas devemos temer pelo Estado, que, incapaz de nos proteger, torna-se vulnerável aos assaltos soturnos e impalpáveis das ambições.

Há 33 anos, presidente

por Jorge Aragão

Por José Sarney

Estava fazendo as minhas orações de deitar quando minha mulher me lembrou a data que chegava ao fim: 15 de março. Ela então acrescentou: “Você se recorda que, há 33 anos, nesta data, assumia a Presidência da República?” Eu respondi-lhe: “Não, não me lembrava.”

Lembrei-me do que tinha ocorrido no dia 24 de abril de 1985: estava eu no sepultamento de Tancredo Neves, em São João Del-Rei, no Cemitério da Igreja de São Francisco de Assis – projetada pelo Aleijadinho, com algumas obras notáveis, como São Francisco recebendo os estigmas, no frontão -, quando, depois da cerimônia, em que eu estava preso de profunda emoção, lembrei-me, já às 11 horas da noite, que, naquele dia, eu completava 55 anos de idade. A tragédia que vivíamos com a morte do nosso líder, que até hoje lamento e me comove, me fizera esquecer até a data do meu aniversário – nem ninguém se lembrou dela.

Hoje, 33 anos depois, recordo a dificuldade que tive quando caiu em minhas mãos a transição democrática, passar o país de um regime autoritário para um regime democrático. A tarefa me enchia de temor e de angústia, sobretudo porque eu olhava para o tempo e não sabia o que seria o futuro.

Como já disse, a transição, muitas vezes, destrói ídolos e lideranças – eu não era nem uma coisa, nem outra. Mas hoje tenho um profundo orgulho de que a democracia não morreu em minhas mãos. Ao contrário, criamos uma sociedade democrática, com afirmação dos direitos do cidadão e das conquistas sociais.

Assim é que, nesses 33 anos, posso recordar que me coube, juntamente com Alfonsín, a tarefa histórica, de repercussão mundial, de retirar a América Latina da corrida nuclear, esse problema que ameaça a humanidade. E vemos o quanto é grave com o que ocorre hoje com a Coreia do Norte e a luta para que o Irã não possua armas nucleares, sobretudo agora quando o presidente Putin anuncia que tem a arma de destruição total – o míssil inalcançável, capaz de levar muitas ogivas nucleares a qualquer parte do mundo sem ser interceptado.

Por outro lado, também com o grande amigo e estadista Alfonsín, acabamos com a grande rivalidade histórica entre Argentina e Brasil e criamos o Mercosul, que mudou a face da América Latina e, se ocorresse nosso sonho, no futuro, se transformaria no Mercado Comum da América do Sul.

Lembro também que, com meu espírito de fé, fiz colocar em nossas cédulas de dinheiro a expressão “Deus seja louvado”, que tentaram tirar, e o povo não deixou. O maior programa de alimentação das crianças do mundo inteiro, o Programa do Leite, que distribuía 8 milhões de litros de leite por dia; o Vale-Transporte, com que o trabalhador anda hoje nos ônibus sem tirar do seu salário; o Vale-Alimentação; a impenhorabilidade da casa própria; a universalização da saúde, com que todos passaram a ter direito a assistência médica, quando antes o pobre não tinha nem onde tomar uma injeção; a Fundação Palmares, para ascensão da raça negra; o Conselho Nacional da Mulher; a lei de proteção às pessoas com deficiência; os incentivos fiscais à cultura (Lei Sarney); a menor taxa de desemprego; a Assembleia Nacional Constituinte; o crescimento econômico de cinco por cento ao ano, até hoje não repetido; o 13° salário para funcionários civis e militares: tudo isso aconteceu naqueles anos. E passamos de oitavo para sexto país na economia mundial, com o terceiro maior saldo de exportação do mundo, só perdendo para China e Alemanha.

Tempo de construção. Os ventos da liberdade varreram o Brasil como nunca. E até hoje as eleições livres, a plena democracia, os direitos do consumidor, da mulher, do trabalhador, dos funcionários ficaram inscritos em lei, e vivemos uma das maiores sociedades democráticas do mundo.

Minha mulher teve razão ao lembrar-me aqueles dias: tenho a consciência de, neles, ter ajudado o Brasil a crescer e democratizar-se.

José Sarney volta a ser eleitor do Maranhão

por Jorge Aragão

O ex-presidente da República, José Sarney (PMDB), conforme já havia sido especulado, confirmou nesta semana a sua transferência de domicílio eleitoral do Amapá para o Maranhão, mais precisamente para São Luís.

A decisão de José Sarney enterra de uma vez as especulações de que ele seria candidato ao Senado pelo Amapá novamente. Apesar de liderar, e com folga, os levantamentos feitos no ano passado, Sarney manteve-se firme na decisão anteriormente anunciada de que não disputaria mais nenhum cargo eletivo.

Sendo assim, José Sarney volta a ser eleitor do Maranhão, mas agora resta saber se o governador Flávio Dino, pela paixão incontida e por estar abduzindo boa parte dos políticos que pertencia ao Grupo Sarney, irá pedir também voto ao ex-presidente.

Partindo de Flávio Dino, doido é quem dúvida.

Impressionante: nem no Carnaval Flávio Dino esquece Sarney

por Jorge Aragão

Está cada dia mais incontrolável a paixão do governador Flávio Dino pelo ex-presidente da República, José Sarney. Nem mesmo em pleno Carnaval o comunista consegue esquecer a paixão pelo sobrenome Sarney. O jornalista Marco Aurélio D’Eça, em seu blog, fez uma postagem sobre o assunto, indo direto ao ponto e mostrando, além da paixão, a eterna incoerência de Flávio Dino. Veja abaixo.

Nem durante a folia o comunista esquece o ex-presidente, que parece ser um ídolo para ele; pior: mesmo chamando a Rede Globo de golpista, governador sonha em aparecer na Globo

O governador Flávio Dino (PCdoB) exibiu mais uma vez durante o fim de semana a sua paixão recolhida pelo ex-presidente José Sarney.

Ema uma postagem que deveria ser para comemorar a entrega de uma praça na Beira-Mar – feita com dinheiro federal – o comunista voltou a citar Sarney, numa demonstração de admiração doentia pelo ex-presidente.

Além da paixão carnavalesca por Sarney, Dino revela na postagem um outro desejo recolhido: a Rede Globo.

Apesar de taxar de golpista a emissora carioca, o governador demonstra desejo de aparecer na programação global; e reclama também de Sarney por não estar lá.

O governador comunista do Maranhão tem um desejo doentio de ser Sarney, já demonstrado em vários posts neste blog.

E neste período essa paixão parece aumentar consideravelmente.

Afinal, como diz o ditado, tudo é carnaval…

Coluna do Sarney: “Bloco dos Perseguidos”

por Jorge Aragão

Por José Sarney

Ao longo da vida tenho escrito tanto sobre o Carnaval que já não sei se devo continuar no tema ou escolher outro, um que fale dos males que hoje afligem o nosso povo, sobretudo a violência, a insegurança e o cultivo do ódio, do fanatismo e da perseguição que são a moeda que circula hoje no Maranhão. Disseram-me até que estavam tentando organizar um Bloco dos Perseguidos, mas chegaram à conclusão que eram tantos que não caberiam em um só bloco, mas ocupariam todo o Estado. Os pobres comerciantes, além de terem de enfrentar a crise, têm de enfrentar o aumento dos impostos, que de maneira brutal caiu sobre o empresariado. A pecuária está estrangulada, com a via crucis que tem de enfrentar no caminho de banco em banco, de burocracia em burocracia, com os preços que até hoje estão deprimidos. O mesmo com os agricultores, grandes e pequenos, tendo que trabalhar somente para pagar impostos, dinheiro que vai para pintar de vermelho escolas, o muro do estádio, hospitais e tudo mais que aceite tinta. O vermelho é a cor revolucionária, fardamento dos funcionários que lidam com o público.

Mas deixemos isso para lá e vamos botar os tamborins para tocar, os tambores de São Luís, que tem um batido de 400 anos, as cabrochas bonitas rodopiando ao ritmo dos cocos africanos, um deles o Tambor de Crioula, e o gingado dos fofões no seu grito de guerra: “Tu me conheces, Carnaval?”

Meu tio Ferdinand, um festeiro de primeira linha, uma vez, quando viu o Bloco da Mesa, todos cantando com uma mesa carregada por foliões, tomou a mesa e colocou na cabeça e inventou uma marchinha: “Esta mesa não é minha, esta mesa é da vizinha.” E os donos verdadeiros do Bloco da Mesa o expulsaram, deram-lhe uns bofetões e ele chegou em casa com as marcas. Estórias de Carnaval.

Mas o mais singular Carnaval de que eu ouvi falar foi o do jornalista Antônio Carlos, que me afirmou que na Barra do Corda se cantava o Carnaval em latim – pode? O latim das orações da Quarta-Feira de Cinzas entoado na bagunça do Carnaval. Não era canto gregoriano, mas samba de breque.

E o “Cara-Dura”, o último carro do bonde que ia para o Anil, todo enfeitado, gente brincando com cofo cheio de capim e a tapioca fazendo o Bloco dos Sujos, onde até urina era jogada na luta da brincadeira.

Depois quiseram encurralar o Carnaval só nos desfiles da avenida das escolas de samba, cada uma querendo ter mais brilho do que a outra e criando um espetáculo que não tinha a espontaneidade dos blocos de rua.

Agora, há um movimento da onda contrária, está voltando o Carnaval de rua em todo o Brasil. Em São Paulo o prefeito está discutindo se são três milhões e meio ou quatro milhões de bloquistas. Em Recife é o Galo da Madrugada, na Bahia, com bloco ou sem bloco, a turma quer é brincar, reclamando da falta de mictórios – e na falta destes marcham para aquilo que na Bahia chamam de descarrego -, enquanto no Rio também os mijadores de automóvel fazem a festa dos fotógrafos e dos curiosos.

Mas estamos falando é daqui e vamos deixar para lá que eles façam o que quiserem para festejar a alegria. No Maranhão o Carnaval forte sempre foi e será o de blocos de rua, com maizena e sem o rodó (lança-perfume de outrora) a fazer os sovacos cheirosos da folia. A palavra de ordem portanto é botar o bloco na rua… e viva o Rei Momo!

Picasso, quando completou 90 anos, disse: “Ah! Que saudades dos meus 80.” E eu, que estou no caminho de lá, que nunca fui carnavalesco, que só gostava mesmo era de assistir os desfiles e ver minha sogra, na Rua do Passeio, com a grande panela de mingau de milho, a receber os bêbados e dar a cada um copázio – eles saíam bons, para recomeçar um novo porre, eu digo:

– Ah! Que saudades, não dos meus 80, mas dos meus 18, com baile de máscara, dominó e tudo.